domingo, 11 de janeiro de 2015

Interno Outra Vez - 2015

11 de janeiro de 2015.

Carvalhooo! Quanto tempo passou! =D
Há anos não escrevo nada e sinto que perdi a mão. Fazer o que? Tudo o que eu escrevo hoje em dia é "BEG, ativo, reativo, anictérico, acianótico, afebril, normocorado, hidratado, eupneico, fácies atípica, RCR2T BNF S/S, RHA+ EM AHT SRA, ABD inocente, TEC < 3 seg, NRL NDN". XD
Uma rápida atualização da minha vida. Meu internato no fim das contas durou 3 anos ao invés de 2 (sim, eu passei por algo que jamaaaaaais tinha passado na vida: reprovação) e eu me mudei de Rondônia pro Paraná-Curitiba, onde passei na residência de Pediatria (estou no fim do 1º de 2 anos).
Pera... Pediatria? Ô.o
"Como assim??? Você não ia ser uma médica generalista popular missionária?" Opa! Opa! Não me lembro de ter dito isso... =P
Do fim do internato até hoje muita coisa aconteceu. Enfim, aqui estou, com novos desafios.
Acredito que Pediatria é um meio de eu me aproximar mais do meu sonho original de Biologia. Não pelo estereótipo de que crianças são iguais a animaizinhos: não falam e temos que "adivinhar" o que elas têm. Crianças são "biologia pura".
Do ponto de vista evolutivo/naturalista/biologista, as crianças agem e reagem como quaisquer outros animais que vivem em sociedade e isso é extremamente interessante. Além da interação dos pais com elas e com os profissionais de saúde, seus conflitos e sua beleza.
Não foi fácil chegar aqui, mas agora aqui estou e o jeito é seguir em frente.
"Deixai vir a mim as criancinhas..."  =)

P.S.: Residência é um internato onde você é mais burro do que era na época de interno. Ponto.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Deus pode me curar?

Hoje de manhã acordei meio atrasada, correndo, fui pro hosp. Como estou na Hematologia (que cuida das doenças do sangue), tem muitos casos de pacientes com câncer no sangue.
Eis que no meio da visita a Doutora passa por um paciente que tinha ido lá pra fazer só um exame. E logo se iniciou uma discussão entre eles, chega a assistente social gritando pelo corredor, e eu pensando "caraca véi, o que ta rolando?".
Não foi nada demais a cena. Não imaginem um barraco, por favor! Hahaha.
Fiquei sabendo que o rapaz tinha uma leucemia mielóide aguda (LMA), e deveria ser internado para o 4º ciclo de quimioterapia. Mas ele não estava ali para isso: desistiu da quimio e tinha ido fazer um hemograma para levar pra igreja dele e dar testemunho de que estava curado depois do pastor ter orado nele. =) Legal, né? ^^



Pois é, gente. Na hora eu fiquei meio sem ação. Sei lá, sabe. "Como o cara abandona o tratamento de um câncer porque acha que Deus o curou???" Véi, eu acho que é preciso muita fé pra isso. Na hora fiquei  curiosa pra saber mais da história dele. Esperei até o final da visita, lá pelas 10 da manhã pra poder conversar. E isso pedindo a Deus que ele não fosse embora, porque na minha mente, se ele fosse sem eu falar nada, sem eu ao menos tentar, aquele cara poderia ser condenado à morte.
Aew entrei em oração e fomos pra visita.
Quando terminou eis que o encontro sentado no corredor conversando com outro paciente, este internado. Juntei toda a minha coragem, falei pro Espírito Santo "cara, é Tu que convence, mas coloca na minha boca as palavras certas". Chamei ele num cantinho. Ficou relutante no início, mas viu que eu era "inofensiva" e foi lá conversar comigo.



Descobri que ele tinha LMA desde o ano passado, começou a quimioterapia em setembro, já tinha feito 3 sessões e se sentia novinho em folha. Mora lá no interior e há 2 meses se converteu em uma igreja evangélica, sendo que antes era católico, e segundo ele mesmo, a doença o motivou a buscar a Deus.  
Um dia o pastor estava pregando, falando sobre um jovem assim, coisa e tal, e o rapaz se identificou com a história. Foi lá em cima, emocionado, e o pastor, após ouvi-lo disse: "você está curado, pode parar de tomar os remédios e volte pra sua casa".

Velho... Após ouvir isso eu quase tive um treco. Mas quem sou eu pra julgar? 
O inexperiente acredita em qualquer coisa, mas o homem prudente vê bem onde pisa. Provérbios 14:15.
Todo homem prudente age com base no conhecimento, mas o tolo expõe a sua insensatez. Provérbios 13:16.
O prudente percebe o perigo e busca refúgio; o inexperiente segue adiante e sofre as conseqüências. Provérbios 22:3.

Cara! Salomão nos fala de prudência, de discernimento, de inteligência, de sensatez! Alguém me diz qual seria a atitude mais prudente desse rapaz? E desse pastor?

Há muitos médicos hoje em dia que seguem a Jesus, que são cristãos, que creem na cura através do poder e da vontade de Deus. Mas fazemos nosso dever. Deus nos deu inteligência pra estudar e entender as coisas que Ele fez. "Meu povo pereceu por falta de conhecimento!" Oséias 4:6. Lucas não foi um discípulo que andou com Jesus, mas foi o cara que escreveu o Evangelho considerado hoje o que tem o relato histórico mais fiel da Bíblia. E segundo Paulo, na carta que escreveu aos colossenses, Lucas era médico. Velho, eu acredito que se não precisassem de médicos, Paulo teria dito "Lucas, o ex-médico", ou "Lucas, o que era médico". E pense que naquele tempo os caras curavam "só de olhar". XD

Fiquei pensando nesse garoto até agora... Me fez refletir em mim mesma, no meu ministério, minha vida com Deus. Sou chamada a curar e levar o Evangelho. E estou "treinando meu dom de cura" todos os dias lá no hospital, em casa estudando... Falei muitas coisas praquele rapaz. A maioria eu nem lembro. XD Não tentei convencê-lo do seu tratamento. Falei pra ele da sua missão aqui, de levar o Evangelho, de ser mais do que vencedor. E ele sorriu pra mim. Sei lá se ele ficou feliz por eu ter ido conversar com ele de boa enquanto todos queriam convencê-lo e falar de remédios, etc, e eu queria falar de Jesus, de ele ajudar as outras pessoas. Vai saber...

Quando eu estava indo embora, parei pra conversar no corredor com a médica residente. Senti uma mão batendo no meu ombro, dando um leve aperto. Cara, na hora eu nem olhei quem tinha sido, mas eu senti no fundo do meu coração uma voz que dizia "Obrigado, você fez a sua parte". Chega me deu um arrepio! Quando virei pra trás pra ver quem tinha sido, vi o rapaz passando atrás de mim, com sua bolsa nas costas, caminhando de cabeça erguida.



Quem convence é o Espírito Santo. Na pior das hipóteses aquele rapaz vai dar um grande testemunho de vida, e mesmo que morra, eu consigo acreditar neste momento que ele é salvo. =) 
Será que importa tanto assim o resultado, ou a caminhada que fazemos até ele?
De qualquer forma hoje ele mudou um pouco a minha vida, pra melhor.

terça-feira, 1 de março de 2011

Somos Membros de que corpo?

Depois de uma longa sumida, voltei. =)
Ah, gente, vida de estudante de medicina é assim (essa é uma desculpa infalível pra qualquer coisa, desde cano nos amigos até preguiça de ajudar sua mãe em casa ahsuahushuahushuahushauhusauhshau).

Bom, semana passada eu conheci um paciente novo. Vamos chamá-lo de Seu João. Ele tem 79 anos, é casado com uma senhorinha idosa também que já não enxerga direito, tem um filho deficiente e um filho normal, e uns 3 netos.



Pois é, faz um tempo já que ele está internado lá no hospital onde eu estudo. Motivo: ele foi cortar um galho de uma árvore e caiu lá de cima, quebrando os dois braços e as duas pernas. =D  Legal, né? É, se não fosse o fato de ele ter mieloma múltiplo, uma espécie de câncer no sangue que acaba dando fragilidade nos ossos do corpo todo. ^^
Resultado disso: Seu João está lá em sua cama, deitadinho com os 4 membros quebrados, sem poder andar, sem poder mexer os braços, com uma sonda vesical no pênis, fazendo cocô numa fralda, tomando banho de toalhinha no leito, com dermatite seborréica no rosto inteiro e na cabeça.
Lindo!!!
Sabe o que é mais legal? O filho dele vai lá uma vez ou outra, mas vai embora correndo. Ele não tem nenhum acompanhante, ninguém que o ajude, que fique lá, que converse com ele, que coloque a comida na boca. Ninguém.

Eu chego lá todo dia de manhã e digo "Bom dia, Seu João! Tudo bem com o senhor?" e sabe o que ele me responde? "Opa, doutora. Tudo ótimo!".
A médica dele estava anteontem conversando, explicando pra ele que não tinha como ele sair do estado pra poder fazer a cirurgia. E ele? "Tudo bem, doutora, tá bom."
A gente falando que não tinha como ninguém da enfermagem ir lá fazer essas coisas pra ele, e a resposta: "Tá bom, doutora. Tá bom assim, tem problema não."
Desde que ele internou chamamos o filho dele pra conversar, e todos os dias ele dá a mesma resposta: "Ah, doutora, ele disse que amanhã vem conversar com a senhora. Amanhã ele vem."
"E os seus netos, Seu João? Não podem vir ficar com o senhor? Nem que seja só de manhã, ou só a tarde. Eu dou atestado pra escola."
"Ah, doutora, tem como não... Eles estudam muito. Não dá não."
...
E sabe, todos os dias ele me recebe com um sorriso. Um sorriso alegre, meio triste. Me vem lágrimas aos olhos de vê-lo, com aqueles dentes todos quebrados, cheios de cáries, alguns até apodrecidos, outros tanto faltando... O rosto cheio de caspa, todo descascando, vermelho de irritação da pele, a careca com os cabelos do lado brancos tudo arrepiado...
Os olhos com catarata, esbranquiçados, que nem saberia dizer a vocês qual a cor original deles.

O paciente do lado anda, fala, come; não está morrendo, morrendo. Não está ocupado com o trabalho, ou tem filhos pra levar pra cá e pra lá, ou tem compromissos marcados. Ele está lá, o dia inteiro, sem fazer nada... Só vendo o sofrimento do colega ao lado.
A equipe de enfermagem, na hora do lanche dos pacientes, está lá na sala de medicação. Alguns leêm livros, outros estão ouvindo música, alguns mais conversam. E hoje estava lá tocando Ministério Toque no Altar, algo do tipo. O livro que uma estava lendo era de bênçãos de não sei o que lá (nem olhei direito).
A nutricionista passa no quarto e pergunta "E aí, Seu João, comeu?". Claro, ele se levantou, pegou a comida e comeu. XD Óbvio, né?


Ontem peguei um coletor de urina novo, enchi de água gelada, peguei o tubinho por onde passa a urina, cortei e prendi perto da cabeça dele, em cima de um copo descartável. Pendurei o coletor na cabeceira da cama. Ele eufórico enquanto eu fazia tudo isso. =D Testamos um tubo, não funcionou. Testamos outro, aew deu certo! Ele bebeu uns 5 goles de água e depois mais 3 e cuspiu tudo, só pra testar o "bebedouro novo". Hahahaha! Tava tão feliz. Velho... Eu nunca vi um sorriso tão gostoso, te juro. Chega eu ri junto, sem nem perceber.

Outros alunos se condoeram com a situação e vão lá encher a garrafa dele de água. Na verdade uma aluna que tá fazendo estágio lá que me chamou atenção pra situação dele, póis até então eu fazia parte do grupo da enfermagem, dos outros alunos de medicina, do colega de quarto dele... Não estava nem aí pra situação do cara! Por quê? Porque eu não conseguia enxergar que ele estava com fome, com sede, que não mexia os braços, nem as pernas.

Isaías 59:10. Como o cego caminhamos apalpando o muro, tateamos como quem não tem olhos.

Aí você me pergunta: mas Talita, o que isso tem a ver com o blog, sobre Deus ter mudado a sua vida, etc?
Ah, velho... Ama o teu próximo como a ti mesmo.

Eu não gostaria de passar o dia deitada numa cama, morrendo de fome. XD Eu não gostaria de ficar dias e dias com dor nas pernas e nos braços. Eu não gostaria de ter um tubo enfiado na minha uretra. Não gostaria de ter que fazer cocô deitada, numa fralda, nem ter estranhos limpando a minha bunda.



Deus, através da vida desse cara, me atentou na prática pra uma coisa que há anos e anos eu tenho ouvido e falado na teoria. Um amigo me chamou a atenção esta semana pra como nas igrejas nos chamamos de Irmão e Irmã e tanto dentro como fora dela agimos em discordância disso. Que hipocrisia nossa chamar o próximo de Irmão/Irmã e agir com tanta indiferença! Eu amo essas pessoas que chamo de Irmão/Irmã como eu amo o meu irmão, ou meus primos e primas?
Velho... Uma ação vale mais do que mil palavras.

Vigiai e orai, "irmãos".

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Paciente J.Q.O. A verdadeira fome.

Tem uma coisa que precisam saber sobre mim: eu tenho uma dupla. Sim, no internato geralmente estamos em duplas. E a minha é o Vitor. Como definir o Vitor... Bem... Ele... Precisa de uma "chupeta" no 220v de vez em quando pra funcionar. XD Hahahahaha! Mas é super gente boa. Só assim pra aguentar a minha xaropisse.



Tenho várias histórias pra contar. Histórias sobre a vida de pessoas que já se foram, histórias sobre mim, histórias sobre Deus... Enfim. Me disseram que eu sou uma "vaca leiteira" de tanta história. Hahahahaha!

Vou contar hoje a história do seu *Francisco. Vamos chamá-lo assim.
Meu internato em Cirurgia começou em dezembro, e já na primeira semana estava lá o seu Chico. Diagnóstico: câncer gástrico avançado. Ele tinha o estômago tão grande que achamos que era o baço super aumentado, de tão enorme. Vinha até o pé da barriga.
Um senhor meio gordinho, nos seus 50 anos.
Ele estava em nutrição parenteral total, uma dieta que vai na veia. Não podia comer nada porque o estômago apesar de grande, não funcionava direito.
Então eu comecei a imaginar... Imaginar o que seria não poder comer. Ver todas as outras pessoas comendo na hora das refeições e só você ali, sentado, sem poder comer nada.
Só isso já renderia um livro!
Os dias iam se passando, vários pacientes entravam na enfermaria, eram operados, saíam e só o seu Chico ficava lá. E ele perguntava da esposa, dona *Maria: "Por que todo mundo é operado, menos eu? Não estão fazendo nada por mim!"
Após 1 mês na enfermaria a barriga dele começou a inchar, cheia de líquido, o que chamamos de ascite. Efeito do câncer que já tinha se espalhado. Isso tornou a possibilidade de uma cirurgia para retirada do estômago praticamente impossível.
Nesse ponto ele já não conseguia mais beber água. O estômago não aceitava, colocava para fora. Então restringimos sua dieta a zero. Dieta zero no hospital significa zero tudo, até água. E foi assim que ele passou, até seu último dia.
Com muito custo foi feita uma cirurgia para fazer um caminho no estômago e ultrapassar o tumor, para que ele pudesse se alimentar.
Nesse meio tempo eu sempre pedia ao Senhor pela cura dele. Sempre conversava com a dona Maria sobre Deus. Uma família que se convertera pela dor, pela doença. Ela mal pôde experimentar a vida na igreja e já foi para o hospital com o marido. E não sei como, encontrou em mim uma irmã em Cristo.
E seu Chico definhava, emagrecia, com aquela barriga enorme, semelhante a uma mulher prestes a dar a luz. Sem poder comer, sem poder beber água, vendo vários pacientes irem e virem, curados de seus tumores, e ele ficava para trás...
E isso o entristecia. E me pergunto até hoje o que será que ele falava com Deus.
Sua filha estava gestante de 6 meses e perdeu o bebê, isso enquanto ambos, pai e mãe estavam no hospital. E essa mãe, dona Maria, foi privada de estar com sua filha no pior momento da vida dela, de cuidar. E essa filha, além de perder o filho estava perdendo o pai.
Imaginem carregar o peso de toda uma família sozinha... Pois todos os familiares do seu Chico cobravam dela alguma atitude, culpavam-na. E essa mulher continuava lá, sorridente. Até ajudava outros pacientes! Mudou a vida de um senhor que teve o braço amputado. Mas essa é outra história.

E essa mulher via em mim uma filha de Deus, uma enviada do Senhor para ampara-la. E eu pensava: Deus, quem sou eu? Quem sou eu pra suportar alguém? Como essa mulher pode pensar tanto assim de mim?
E eu continuava lá, todos os dias... Vendo aquele homem emagrecer, seu corpo todo edemaciado, seu abdome cheio de líquido, vomitando sangue escuro todos os dias, a morte chegando mais perto.
Ele sabia que ia morrer e não demoraria. E isso o deixava muito triste, eu via em seu olhar.
Tivemos uma esperança com a cirurgia para ele voltar a se alimentar, mas foi vã. Confesso que no momento em que abrimos seu abdome minha expectativa era a de um milagre. Eu estava tão certa dele. Porém tudo o que vimos foi um tumor gigantesco que invadia tudo com pequenos focos de metástase de incontável número em todo o intestino.
Naquele momento toda a minha esperança se foi.
E eu perguntava pra Deus: você vai deixar esse homem sofrer assim? Por quê? Pra que?
Mais uns 15 dias se passaram, marido e mulher frustrados pelo insucesso da cirurgia. Ele não conseguia se alimentar ou beber água. Toda a esperança deles se foi também.
Imagine... Imagine-se passando 2 meses, 60 dias, sem comer ou beber nada. Nada. Nada! Imagine o sofrimento! Até os presos no corredor da morte têm direito a uma última refeição... Eu pensava nisso todos os dias, sempre que eu ia comer ou beber alguma coisa.

Só restou em todos nós a esperança em Deus. De que Ele faria o melhor.
E assim num sábado o seu Chico se foi, em agonia, vômitos, dor e sofrimento. Mas ele cria em Jesus e que aquele sofrimento era temporário. E então recebeu alta celestia, em janeiro de 2011.
Liguei pra sua esposa 2 dias depois, e ela me disse o seguinte: "Quero continuar indo lá no hospital, ajudando as pessoas a passarem por essa situação, como você fez conosco. Você foi um anjo de Deus em nossas vidas."
Isso me deixou muito feliz, a atitude dela, de superar todo o sofrimento e fazer a vontade do Senhor. De, mesmo perdendo tudo naquele momento, dar graças.

Me marcou. Nunca vou esquecê-los. Não sei como meus colegas conseguem passar por estas pessoas e não as ver, e não perceber seu sofrimento, e olha-las como apenas doenças.

Ver o seu Chico me lembrava todos os dias: nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus. Mateus 4:4. Jesus é a água viva, que mata a nossa sede interior. Jesus é o pão que mata a fome da nossa alma. Só nEle nos sentimos verdadeiramente saciados.

Não é fácil, assim como não foi pro seu Chico. Mas não é impossível. Ainda estou descobrindo como viver assim. E não vou desistir. =)



Depois de tanto perguntar, encontrei a resposta. ^^

Medicina: como eu vim parar aqui.

Bom, pra falar das minhas experiências e para que entendam uma parte de como me sinto a respeito delas, vou relatar como eu vim parar aqui.
Sim, porque medicina nunca foi o meu sonho. XD
"Mas como uma pessoa pode fazer medicina sem ser seu sonho???" Por obediência.
Eu sempre me dei bem com animais e queria muito ser bióloga, apesar de tudo o que diziam sobre a profissão e as condições de remuneração ruins. Era o meu sonho, desde criança. Motivada pelo meu pai e pelas dezenas de bichos que já criamos em casa (desde bodes, até poraquê, peixes, cães, gatos, lagartos, periquitos, abelhas, morcego... enfim. ^^) eu fui alimentando esse desejo.


Estudava desde bem novinha pensando no vestibular. Eu nem sabia o que era vestibular! Hahahahaha.
Mas chegou o ano que mudaria minha vida para sempre.
Na época eu estudava no Colégio Adventista, fazia cursinho no Giga à noite (ganhei meia bolsa num simulado!), inglês na Cultura Inglesa à tarde (onde eu também dava aula pra ajudar a pagar o curso), e na madrugada fazia bombons pra vender e rolar uma grana.
Chegou o dia da inscrição. Eu estava sentada no computador lá na sala, e já ia selecionando "Biologia" quando... Quando ela apareceu. Ela. O general da casa: minha mãe.
Resumindo: ela mandou que eu colocasse pra Medicina. Liguei pro meu pai em lágrimas, dizendo que aquilo era injusto, que tinham mentido pra mim dizendo que eu escolhesse o que quisesse. Eis que ele me diz: obedeça a sua mãe, pois Deus não gosta de filhos desobedientes.

Véi... Foi um balde de água fria. E eu, pela primeira vez na vida falei: Deus, eu vou obedecer, mas o Senhor toma alguma providência quanto a isto!


E hoje estou aqui. =)

Claro, foram uns 2 anos pra eu aceitar que ali era o meu lugar, e mais 2 pra eu fazer parte dele. Mas foi aí que eu comecei a perceber o óbvio: Deus interfere na minha vida para o meu bem.
E isso mudou tudo.
Ezequiel 33:17.

Internato: e agora?

Eu deveria ter começado a escrever este "diário" em agosto de 2010, pois foi aí que o primeiro dia dos meus 2 anos de internato médico começou.
O internato de medicina é um período onde academicamente os alunos colocarão em prática o que aprenderam nos 4 ou 5 anos anteriores. Bom, isso é o que dizem pra nós quando entramos na faculdade. =P
Mas só descobrimos o que realmente é o internato dia após dia dentro dele.
Em alguns lugares eles preferem o termo doutorando, já que interno soa como alguém internado. XD Porém é isso o que somos: alunos internados em um hospital. Internos.
Na minha universidade temos 2 anos de internato, divididos em 6 rodízios de 2 meses cada, que se repetem ao fim do 1º ano. São eles: Saúde Coletiva, Optativa, Clínica Cirúrgica, Clínica Médica, Obstetrícia/Ginecologia e Pediatria. Eu comecei em Saúde Coletiva e atualmente estou em Clínica Médica.


Na maioria das vezes colocarei aqui relatos soltos. Outras, orderarei cronologicamente. Mas no geral tentarei mostrar um pouco do que vivo.

Espero que tenha algum proveito para alguém além de mim. =)

Deus os abençoe em Sua infinita graça e bondade.